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terça-feira, 29 de abril de 2014

Volta ao mundo em 50 países - Parte II

Continuamos com a segunda parte da entrevista com Daniel Conrado. Agora, Conrado nos conta um pouco sobre suas histórias de viagens!
por Eliana Loureiro

Turistando Por Aí: Conte algumas histórias sobre as viagens que fez.

D.C.: As histórias são muitas. Lembro-me de uma viagem que fiz por Portugal, Espanha e França. Na França, fiquei na casa de três franceses que havia conhecido em outras viagens. Não é muito comum franceses oferecerem suas casas, mas talvez pelo fato de eu falar francês, isso tenha ocorrido. A primeira casa foi a de um francês chamado Monsieur Cabau. Eu o conheci, junto com sua filha e uma amiga dela, na Patagônia, mais precisamente em El Calafate, na Argentina. Dividíamos um banheiro e uma cozinha numa pousadinha. Ouvi alguém falando francês e não resisti, fui lá me meter. Eles ficaram muito contentes de alguém falar francês com eles, pois estavam tendo dificuldades de comunicação. Eles falavam espanhol, mas na Argentina não conseguiam entender nem ser entendidos, diziam que lá não se falava espanhol e sim, argentino... Adoraram falar comigo e me deram endereço, telefone e e-mail. 

Algum tempo depois, estive em Paris, onde as meninas moravam, e liguei para uma delas. Era um sábado e ela estava saindo de Paris de trem, mas me pediu um tempo e retornou a ligação dizendo que estava voltando para a cidade para me encontrar. No dia seguinte, eu, ela e a amiga passamos a tarde conversando em um café parisiense. Ela ligou para o pai, que mora em Toulouse, e ele queria que eu fosse conhecer a sua casinha, nos Pirineus. Disse que não podia naquele momento, mas aceitei o convite para outra ocasião, que ocorreu dois anos depois, nesta viagem que mencionei. Eu saí de Barcelona, cruzei por Andorra e lá nos Pirineus segui a indicação das meninas para achar a cidadezinha, na verdade, uma aldeia. Já era noite quando cheguei à casa dele e encontrei um bilhete na porta, dizendo que ele e a esposa estavam jantando na casa de amigos e que eu ligasse para lá. Ele veio imediatamente, mostrou-me a casa, indicou-me o quarto e pediu licença, pois estava voltando para o jantar, pedindo que eu ficasse à vontade na casa dele! Só fui conhecer a esposa no dia seguinte, pois eles voltaram tarde e eu já estava dormindo. Ela fez um ratatouille dos deuses e almoçamos no pátio da casinha num clima extremamente agradável. Que “marravilha”! 

 Casa nos Pirineus 
Foto: arquivo pessoal.
 
A segunda casa foi a de um casal que conheci na Polinésia Francesa, estávamos no mesmo hotel e quando eles viram que eu falava francês, não nos desgrudamos mais... Fizeram questão de me dar o endereço, o telefone e o e-mail, e me convidaram para a casa deles! Desci os Pirineus, cheguei à cidadezinha de Istres, perto de Marselha, e fui a primeira pessoa a saber, fora o marido, que estava fora a trabalho, que a Karine estava grávida! Foi uma festa, ela tinha sabido naquela manhã. Os outros amigos e família ficaram sabendo depois de mim! Fiquei uma noite lá, depois fiz toda a Côte d’Azur até Mônaco e voltei. A Karine organizou uma festa para me apresentar aos amigos dela e comemorar a gravidez. Foi muito legal compartilhar esse momento com ela!

  
                                  Daniel encontra um restaurante com seu nome em Orange (França). 
                                                                Foto: arquivo pessoal.


A terceira casa foi a de uma amiga francesa que eu havia conhecido há 18 anos, no Peru, e que já havia passado uma semana na minha casa. Ela tinha recentemente se mudado de Lyon para uma aldeiazinha, onde herdara uma casa do avô. Eu avisei que estava chegando enquanto almoçava em Lyon, e umas três horas depois, cheguei ao local. A Dominique tinha ido ao bosque perto da casa dela e havia colhido amoras fresquinhas, com as quais fez uma fantástica torta! Passamos o tempo todo com ela entusiasticamente me mostrando o resultado de suas plantações na sopa que comemos aquela noite! Ela também me mostrou um potinho amarelo de plástico e perguntou se eu sabia o que era aquilo. Eu não sabia, e ela me disse que era um potinho que a minha mãe tinha dado a ela cheio de doce de casca de laranja, que minha mãe costumava fazer. Ela tinha guardado o potinho por 18 anos como recordação! Fiquei muito emocionado. Como é importante a amizade!


 Daniel Conrado visita a Acrópole na Grécia. Foto: arquivo pessoal.

TPA: Tem histórias engraçadas?

D.C.: Tem várias histórias engraçadas, mas lembro de uma num hotelzinho na Bolívia, onde o chuveiro era controlado por outra pessoa, do lado de fora. A gente tinha que ficar gritando lá de dentro “está caliente”, “está fria”, até acertar a temperatura. Bom, tomei meu banho e comecei a gritar para que fechassem a água, e nada... Fiquei uns 30 minutos embaixo do chuveiro ligado esperando se lembrarem de mim... Não podia sair porque estava pelado e não podia colocar a roupa sem desligar o chuveiro.

TPA: Sei que em uma de suas viagens, você conheceu uma rainha. Como foi isso? Os amigos, pessoas que conhece, são um dos grandes presentes das viagens?

D.C.: Quando eu trabalhava para a ONU, na Jordânia, em um dos períodos fui instrutor de uma turma do curso de Liderança para Jovens, que era realizado todos os anos. Uma das atividades foi uma entrevista com a rainha Noor, que se tornou rainha da Jordânia quando casou com o rei Hussein. O rei da Jordânia no momento é o Abdullah II, filho mais velho do Hussein com a primeira mulher dele. Rainha Noor continua, entretanto, com o status de rainha, pois era a mulher do rei quando ele faleceu. Ela na verdade é americana, e se tornou jordaniana pelo casamento. Fomos recebidos no Palácio Real, ela mandou colocar tapetes e almofadas no jardim e os alunos fizeram muitas perguntas. Ela é uma mulher belíssima e muito inteligente, extremamente preparada. Saiu-se muito bem em todas as perguntas, até as mais ousadas e difíceis. Além disso, muito simpática. Foi uma experiência e tanto!



                                  Daniel Conrado cumprimenta a rainha Noor. Isso sim é majestade. 

                                                                            Foto: arquivo pessoal.

Clique aqui a primeira parte da entrevista.




terça-feira, 22 de abril de 2014

Volta ao mundo em 50 países

Gaúcho de 59 anos, que acaba de atingir a marca, conta como planeja suas viagens;
além das histórias, os encontros e os amigos que fez mundo afora, inclusive uma rainha.

por Eliana Loureiro

A trilogia “O Senhor dos Anéis” se inicia com o conselho do personagem Bilbo Bolseiro a seu sobrinho e herdeiro Frodo:"... É perigoso sair porta afora, Frodo...Você pisa na estrada, e se não controlar seus pés, não há como saber até onde você pode ser levado..." 

É essa frase que me vem à mente ao conversar com Daniel Conrado, um gaúcho de Porto Alegre, de 59 anos, administrador com mestrado em Gestão Ambiental, que trabalha como consultor, atualmente com análise de riscos para grandes eventos. Conrado começou a viajar para o exterior aos 22 anos, mas antes disso já viajava de carona pelo Brasil, no melhor estilo mochilão.

Hoje, 37 anos depois, Conrado acumula amigos das mais diversas nacionalidades; o casamento com uma estadunidense; fluência em quatro línguas, noções de outras cinco; vivência por pelo menos um mês em dez países diferentes; e muita história interessante pra contar (conheceu até a rainha da Jordânia!).

Conversei com Daniel Conrado por e-mail, pois, claro, ele está em mais uma de suas viagens (atualmente está no Canadá), uma viagem importante, uma vez que acaba de atingir a marca de 50 países visitados. Quase um país visitado por ano, 26% de todo o planeta desbravado. Uma experiência de vida que será comemorada com uma grande festa, no melhor estilo do setuagésimo décimo primeiro aniversário do personagem Bilbo, que abre a saga de J.R.R.Tolkien.
Na ilustração, todos os países visitados por Daniel Conrado marcados com um alfinete vermelho.
Arte: Adriano Lima

Turistando por aí: Podemos afirmar que você é um apaixonado por viagens? Se sim, você sabe dizer quando começou essa paixão?
Daniel Conrado: Sou completamente apaixonado por viagens. Lembro-me da primeira vez que fui a Santa Catarina, mais especificamente a Garopaba, eu devia ter uns 12, 13 anos. O caminho incluía uma subida de morro, e quando o carro chegou lá em cima, eu fiquei extasiado com a visão do mar azul, muito diferente do que eu estava acostumado. Aquilo me marcou tanto, que depois dali eu nunca mais tirei as viagens da cabeça, e sempre que podia, viajava!

“Lembro-me da primeira vez que fui a Santa Catarina, (...) eu devia ter uns 12, 13 anos. O caminho incluía uma subida de morro, e quando o carro chegou lá em cima, eu fiquei extasiado com a visão do mar azul, (...). Aquilo me marcou tanto, que depois dali eu nunca mais tirei as viagens da cabeça, e sempre que podia, viajava!”

TPA: Você começou a viajar por uma necessidade de trabalho, aprendizado, ou foi apenas por lazer mesmo?
D.C.: Comecei a viajar aproveitando toda e qualquer oportunidade, fosse a trabalho, para estudar, ir a encontros ou congressos, férias... Sempre dou um jeito de encaixar uns dias de férias em uma viagem a trabalho, por exemplo. E aproveito cada dia para conhecer aquilo que me interessa. 

 Com o golfinho Andy no Blue Lagoon Island, nas Bahamas,local onde foi filmado A Lagoa Azul.
Foto: arquivo pessoal.

TPA: Na sua assinatura de e-mail, você usa uma frase do livro “Mar Sem Fim” de Amyr Klink que afirma "Hoje entendo bem meu pai. Um homem precisa viajar...” Explique a importância desta frase para você. É um lema para sua vida?
D.C.: A frase do Amyr Klink se tornou um lema para mim. (...) Viajar para mim é um estado de alma, uma necessidade. Se passo muito tempo sem viajar, começa a me dar uma síndrome de abstinência. Eu preciso viajar!

TPA: Dos cinco continentes, quantos você conhece? Sabe dizer quantos países?
D.C.: Conheço os cinco continentes, mas bem menos a Ásia; até agora foram 47 países, mas quando terminar esta viagem que estou fazendo agora (estou no Canadá) serão 50 países. Quando eu chegar de volta a Porto Alegre, pretendo fazer uma festa dos 50 países.

 Daniel Conrado com amigos em uma viagem ao interior do Rio Grande do Sul.

Foto: arquivo pessoal.

TPA: Quantas línguas você fala? Quantas fluentemente?
D.C.: Falo quatro línguas. Fluentemente: português, francês, inglês e espanhol. Consigo compreender italiano, mas falo muito pouco, sei algum alemão e árabe, e consigo ler em russo.

TPA: Em quantos e quais países já viveu? Por quanto tempo em cada um? O que tem a contar sobre esses países?
D.C.: Vivi na Bélgica durante um ano, foi a minha primeira experiência de moradia no exterior e foi muito importante, pois lá comecei a compreender melhor o mundo, inclusive o meu próprio país. Sempre que a gente se distancia do lugar onde nasceu e/ou foi criado e/ou onde vive, podemos ter uma ideia mais clara dele. Na Bélgica fiz o meu aprendizado de francês e conheci muitas pessoas. Bruxelas é uma cidade internacional, sede da OTAN, do Parlamento Europeu e de vários organismos internacionais. É chamada de “o Carrefour da Europa” (Carrefour significa cruzamento em francês), pois está próxima das grandes potências: França, Alemanha e Inglaterra. O deslocamento é fácil. Além disso, é uma cidade muito cultural. Lá me apaixonei pelo Balé do Século XX, e não perdia um espetáculo. Era sócio de um cinema na esquina da minha casa, pagava por mês e podia ir todos os dias, cada semana era um ciclo: Truffaut, Woody Allen, Antonioni, Bertolucci, Fellini, Pasolini, Resnais... Enfim, tudo de bom. Bruxelas tem muitas salas de jazz também, que eu adoro.

Morei na França (Paris) por dois anos, trabalhando nas mais diversas coisas, sempre ilegal. Foi uma vida difícil. Passei também alguns meses na Inglaterra (Londres) e na Alemanha (Bad Godesberg, pertinho de Bonn).
Estudei e morei na Dinamarca (Elsinore), nos Estados Unidos (Cleveland), na Inglaterra, em outra ocasião (Dartington).
Morei e trabalhei na Jordânia (Amã), para onde ia e voltava seguido, por dois anos e meio. Trabalhava em um instituto que pertencia à Universidade das Nações Unidas, o braço acadêmico da ONU.
Morei (se é que passar um mês pode ser morar) no México, Equador, Colômbia e agora no Canadá. Dá pra aprender muito do cotidiano dos países quando a gente está numa casa, tem que fazer compras, enfim, participa da vida do país.
 

 
 Daniel Conrado brinda à vida com uma cerveja sem álcool, em Siena, Itália.
Foto: arquivo pessoal.

 

 Daniel Conrado e sua esposa em visita ao Grand Canyon, nos EUA.
Foto: arquivo pessoal.

TPA: Sei que você prefere fazer viagens que saiam do roteiro tradicional, que você seja capaz de conhecer o dia a dia da população nativa do lugar. Por que isso?
D.C.: Eu geralmente não faço viagens com pacotes, prefiro eu mesmo fazer o meu roteiro, que na grande maioria das vezes acaba saindo fora do puramente turístico. Eu gosto de explorar locais diferentes, adoro visitar ruínas. Gosto de fazer contato com os locais, com a população, aprender como vivem, o que pensam. Viajar é sempre um aprendizado para mim. Começa antes da viagem propriamente dita. Gosto de ler sobre os países que vou visitar, sua história, geografia, política e sociedade. Os povos que já habitaram a região. As curiosidades. Saber um mínimo da língua, pois isso aproxima as pessoas. Nem que seja olá, tchau, obrigado, meu vocabulário em chinês.

“Viajar é sempre um aprendizado para mim. Começa antes da viagem propriamente dita. Gosto de ler sobre os países que vou visitar a história, a geografia, a política, a sociedade. Os povos que já habitaram a região. As curiosidades. Saber um mínimo da língua, pois isso aproxima as pessoas. Nem que seja olá, tchau, obrigado, meu vocabulário em chinês.”

Conrado realiza seu sonho de dirigir uma Ferrari vermelha em circuito de alta velocidade, em Las Vegas (EUA).
Foto: arquivo pessoal.

 Em viagem a trabalho no Acre (sim, ele existe!).
Foto: arquivo pessoal.

Acompanhe o blog para a segunda parte da entrevista!

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Dia 29/12/13 - Alcançamos o fim do mundo!

Após sete dias dirigindo por estradas argentinas passando por cidades desconhecidas para o turismo, encarávamos a Cordilheira dos Andes para chegar a Ushuaia. A região da Cordilheira nebulosa já nos apresenta o tempo instável, característico do fim do mundo. Em suas curvas paisagens emolduradas pela neblina criavam o clima mágico da pontinha mais ao sul do mundo. 

 Será que estou aqui mesmo?
 
Ao cruzávamos a placa Ushuaia, sente-se que o fim do mundo é maior do que imaginávamos. Seguindo em direção ao mar, chega-se a famosa placa do Fim do Mundo. A placa fica ao lado das agências de passeios turísticos. Pausa para a clássica foto! A avenida Maipú, defronte ao mar, já possui restaurantes e seguindo mais a Sudeste, leva ao Trem do Fim do Mundo e o Parque Nacional Terra do Fogo. 

A cidade emoldurada pelas montanhas

A avenida San Martin (uma quadra acima da Maipú) é a rua principal da cidade, onde se pode caminhar e escolher um dos diversos restaurantes do local. Como toda cidade turística, nas ruas adjacentes também se encontram bons restaurantes com preços, muitas vezes, mais acessíveis. No restaurante Volver, prova-se centolha (carangueijo gigante) em diversas formas. E são frescas. Chegaram enquanto jantávamos.

Em outra refeição, provamos o famoso cordeiro patagônico. Simples em temperos, mas com o sabor de defumado especial, o restaurante La Estancia foi uma boa escolha. Preco bacana em ambiente confortável. De sobremesa, prove o "brownie bombom" da chocolateria Laguna Verde e me conte. Gera saudades ate hoje aqui em casa.

Depois de chegar, bem alimentados, era hora de seguir para o nosso lar na cidade. O camping "La pista del Andino" localiza-se no alto da cidade em meio a uma das muitas montanhas que emolduram Ushuaia. Camping bem organizado, espaços separados para as barracas com mesinha e bancos, tomada e um pedaco para fazer fogueira. Banho quente também foi um bom aliado ao verão de baixas temperaturas da cidade.

 Perdi o fôlego no Parque Nacional Tierra del Fuego

No Parque Nacional Tierra del Fuego há algumas trilhas de fácil, média e de difícil intensidade. Ao escolher a mais difícil do parque, 4 km de extrema subida, não sabemos se chegamos ao final por falta de sinalização a partir de um ponto da trilha. Há somente um centro de visitantes e não encontra-se funcionários durante as trilhas. Para chegar ao parque ônibus saem do centro (próximo ao píer), para saber sobre horários, pergunte nas informações turísticas.

O ponto mais ao sul do mundo!

Em destinos extremos os horários se alteram com frequência, pois no inverno anoitece muito cedo e no verão escurece tarde. No verão de 0 grau do fim do mundo, o dia só se torna noite às 23h. O parque, por exemplo, não cobra entrada no inverno, já que é praticamente impossível fazer qualquer trilha.

Apesar de famoso, optamos por não utilizar o trem do fim do mundo, mas fomos de barco ao farol do fim do mundo. Aliás tudo lá é fim do mundo. Apesar do trem ser bem turístico, e por isso a nossa fuga, o barco também é o típico passeio pega-turista: caro e nos sentimos enganados. A paisagem é realmente muito bonita, mas o abuso nos valores dos passeios é decepcionante.



Pergunte a qualquer viajante a sensação de chegar a Ushuaia. Só magia explica. Parece que atravessamos uma etapa. Somos novos viajantes. Alcançamos o fim do mundo e por incrível que pareça, o mundo fica menor nos desafiando a conhecer outros “fins de mundo” por aí.